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30 de Junho 2010

O dia 30 de Junho está muito quente, chegou aos 30 graus e a Aninhas tem a ingrata, mas doce missão, de dizer adeus aos seus meninos de agora de ontem e de há 30 anos atrás, que fazem e fizeram 30 por uma linha, mas não desarmaram a Senhora Professora Ana Maria Luz, da Escola 31 de Janeiro. A Aninhas incentivou-lhes o engenho, ensinou-os a cantar, deu-lhes as letras, os números, encaminhou-lhes os passos, contou-lhes histórias, um mar de coisinhas... eu sei lá! A Aninhas adivinhou-lhes os medos, as impaciências, os “oh senhora professora posso ir fazer chichi?”. Ninguém como ela, às vezes nem as mães, os conheciam tão bem. Mas mais importante do que tudo, na minha modesta opinião, é o sentido de justiça e de diálogo que preside a tudo o que a minha Aninhas faz. Estas ‘fornadas’ de meninos que tiveram o privilégio de estar nas suas classes vão de certeza ser mais dialogantes, menos egoístas e muito mais solidários. Obrigada Ana, o mundo está a precisar deles. Lurdes Alípio 30 de Junho d

Fantasilândia

Relato de uma viagem Um dia o pai Jorginho decidiu oferecer aos nossos filhos, Pedro e Rui, uma viagem de sonho. Na altura ainda nem se falava na hipótese de termos na Europa uma Disneylândia como havia nos EUA em Orlando. Então comunicou-vos que iam à Fantasilândia que ficava na Alemanha perto de Colónia, numa cidade chamada Brühl. Na falta de, quer transporte próprio quer condutor,  o pai ajeitou as coisas com o Zé João (Alves da Costa) seu amigo de longa data e que tinha dois filhos das vossas idades, uma menina e um rapaz. Lá foram os seis num carro sem grandes luxos, mas com espaço. O tubo de escape fazia-se anunciar muito antes de chegarem a qualquer ponto do vosso longo itinerário já que tiveram que atravessar Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda até entrarem na Alemanha. Para memória futura aqui junto fotos da altura que encontrei no meio de tanta recordação documentada que o pai e vocês certamente criaram e que hoje me enche um pouco os meus dias. Certamente terão lembr

Sonho de uma tarde de Verão

A vida corria mansa. Casara há 3 anos com o grande amor da minha vida, morava no enfiamento da Praia das Avencas na Parede e o Pedro já andava e falava muito bem. Viver com a sogra não me tirava o sono, ajudou-me a criar os filhos, mas sempre me intimidaram aqueles saborosos manjares rigorosamente executados a partir dos livrinhos da Vaqueiro.   E se até meados de 75 trabalhara como secretária tradutora na área da fotografia e como dactilógrafa na Arthur Andersen consultores, irrequieta como era, um dia respondi a um anúncio desafiante que me levaria até às areias do Ali Babá. O ex-cônsul de Portugal em Baghdad,  de origem árabe, representante de várias grandes empresas portuguesas, interessadas em trabalhar com o Médio Oriente - abrira um escritório de exportações no meio de Lisboa e precisava de uma secretária bilingue com experiência de escritório. Entrei e passei a acumular com a função de Secretária da Associação de Amizade Portugal-Iraque . Eram os tempos do pós revolução. A líng

O Pargo Legítimo

Faltava contar a história do pargo voador. Foi assim! O Avô Alípio trabalhava nos comboios, chamava-se então Sociedade Estoril. Tinha o trabalho mais mal pago da escala de ordenados.  Dezenas de anos de trabalho do avô Alípio foram passado na estação do Cais do Sodré confinadinha com o Cais da Ribeira  onde o vosso bisavô Júlio, pai da avó Lurdes e do Vasquinho era Chefe do Armazém da Fruta. Mas voltemos ao avô Alípio. Muito prestativo e dada a penúria desses tempos, de mão esticada à gorjeta, o Avô ajudava as peixeiras a por a canastra à cabeça, e se não havia gorja, aproveitava por vezes para regularizar as contas atirando com um pargo legítimo para trás das costas, sem que as mesmas dessem por isso e, a vida custa a todos, só um obrigadinho Sr. Alípio não pagava contas. Desculpem-me os leitores mas é mesmo assim, estamos num mundo gato, já que falamos de peixe.  Bem mas voltando ao pargo legítimo – já que era ele a escolher, tirava o melhor – um dia no final do turno com saída à mei

O Pombo Correio

Ali no Bairro das Pedreiras, por cima de Cascais o avô tinha um pombal por cima do galinheiro e das coelheiras, tudo isto em 2mx2m. Convivendo com os pombos para a canjinha, coabitavam 3 ou 4 pombos correios anilhados que lhe oferecera um amigo.  Amigo de Feiras e não pagando transportes, nas folgas, às vezes lá ia ele para a Feira da Sertã, levando consigo um pombo correio, anilhado claro,  que largava quando chegava à Feira a fim de informar a família da hora de chegada para o almoço facilitando, julgava ele, a confecção atempada do almoço.  A minha mãe, inteligente como era, não confiava no acaso. Preparava tudo e embrulhava o tacho em dois ou três panos, mais uma toalha de mesa por cima...estava sempre tudo pronto. Feliz lá chegava o avô Alípio pelas 2 da tarde, contando o que vira, trazendo consigo algumas mudas e um queijito. Almoçávamos e o avô dormia então uma bela sesta. Pelas 6 horas da tarde, lá chegava esfalfado,arrepiado e com algumas penas a menos, mas cumpridor, o pombo

O Acidente

Dizia a notícia  “O grande acidente aconteceu às 16 horas e 7 minutos do dia 28 de maio de 1963, hora em que se registava um movimento normal na estação do Cais do Sodré, a cobertura dos alpendres das gares da Estação ruiu, soterrando mais de uma centena de pessoas, das quais 49 morreram e 69 ficaram feridas”. Só me lembro que vinha a subir a Rua de Alvide penso que com a Luizinha e era um dia como outro qualquer. Já deveriam ser umas 6 ou 7 da tarde, devíamos vir do liceu porque eu tinha 15 anos feitos e a mana haveria de fazer os 13 em Setembro. Só tenho fracas visões de pessoas a passar e olhar para nós sem dizer nada ou a murmurar...coitadinhas, seria isso que diziam baixinho ? rostos fechados. Não demorou que se soubesse da tragédia porque na Rua de Alvide havia várias famílias que tinham os seus homens a trabalhar nos combois e o Tio Zé Mendes também lá trabalhava. Na altura poucas pessoas tinham telefone mas a rádio e a televisão já tinham anunciado a catástrofe. Aquilo ficou-me

O Naininaine

  O Naininaine (99) Torneiro mecânico de profissão o Naininaine era já um homem feito quando tudo isto aconteceu. Andava aí pelos quarenta e tal anos. O verdadeiro nome ficou lá atrás esquecido, subterrado pelas camadas de vida dura a trabalhar o aço nos estaleiros e a responder por Naininaine. Magro e de estatura mediana, umas patilhas desenhadas em esquadria e um cuidado bigode preto, davam-lhe um ar distante, mas conta quem sabe que era um homem intenso de coração e de ideais como à frente se verá. Bom pai de família, andava infernizado com a greve. Quatro semanas sem receber e sem se poder queixar – porque um homem ou é ou não é – e os bolsos a negarem-lhe os escudos. A conta na mercearia já passava de uma folha e crescia a olhos vistos mas o seu bom nome e a compreensão da merceeira avalizavam a dívida. À hora do almoço, no estaleiro, mãos e rostos lavados, os trabalhadores lá se sentavam-se na cantina. Uma greve de 4 semanas roubara-lhes o sorriso mas não a determinação da causa